A indústria é
a atividade por meio da qual os seres humanos transformam matéria-prima em
produtos semi-acabados ou em produtos acabados. Sua importância é tão grande
nos dias atuais que quase tudo o que consumimos e utilizamos é processado ou
produzido por ela. Além de oferecer empregos, a indústria produz capital,
desenvolve o comercio, os transportes e os serviços, dinamizando a economia.
A origem do
processo de industrialização se deu na Inglaterra, durante os séculos XVIII e
XIX, e disseminou-se para outros países através da transferência das inovações
tecnológicas das então metrópoles para as colônias o que representou o
principio da desagregação do sistema imperialista colonial.
Através da
analise sobre a evolução histórica do modo de produção industrial, pôde-se
reconhecer três estágios mais gerais que são: o artesanato, que corresponde ao
estágio em que o produtor executa sozinho todas as fases da produção e até
mesmo a comercialização do produto, e isto sem o uso de máquinas, utilizando-se
apenas ferramentas simples.
O outro
estágio é a manufatura, que corresponde ao estágio em que há uma divisão do
trabalho, mas a produção ainda depende fundamentalmente do trabalho manual,
embora sejam empregadas algumas maquinas simples. A maquinofatura é o estagio
atual, que pode-ser caracterizado pelo emprego maciço de maquinas e fontes de
energia modernas, produção em larga escala, e grande divisão e especialização
do trabalho.
Do ponto de
vista politico-econômico, pode-se dizer que houve três tipos de industrialização:
a clássica ou original, a planificada, a tardia ou retardatária. A
industrialização tardia é a que nos interessa, pois foi esta que ocorreu no
Brasil, e como o nome sugere, foi historicamente atrasada em relação á
original, e tem como características a grande quantidade de capital
estrangeiro, tem por base o desenvolvimento de indústrias de bens de consumo e
utiliza basicamente tecnologia estrangeira.
O processo de
industrialização tardia no Brasil teve reflexos no desenvolvimento industrial
do Piauí, e discutir esses reflexos consiste no objetivo deste artigo. E para
compreender a dinâmica industrial piauiense foi feito um estudo de caso em uma
indústria do setor de bebidas que através das análises do sistema de produção
foi possível construir uma análise geral sobre a dinâmica da indústria
piauiense.
Evolução histórica do processo de
industrialização brasileira
Para
entendermos como o Brasil chegou a seu estágio industrial e conjuntura
econômica, temos que conhecer um pouco do contexto histórico do processo de
industrialização do país. Na década de 30 o capitalismo é definitivamente
adotado como modelo econômico, firmando-se assim como o principal modelo de
produção de riquezas o que possibilitou a livre transformação de matérias –
primas em mercadoria, e a crescente especialização do trabalho o que configurou
na atual divisão social da sociedade urbano-industrial brasileira.
O crescimento
dos mercados e o surgimento de novos produtos instigaram o processo de
industrialização, assim no inicio do século XX, a predominância era de indústrias
de bens de consumo não-duráveis, compostas por fábricas de tecidos, roupas,
alimentos, bebidas e fumo que compunham 70% de acordo com Baer, (2009) de toda
a produção industrial brasileira. Dentro deste processo, destacou-se a região
Sudeste, que por possuir características econômicas e organizacionais mais
desenvolvidas (e isto também é resultado da colonização que desde o inicio já
segregava economicamente as regiões brasileiras), tornou-se, portanto o berço
da nossa industrialização.
O período pós
Segunda Guerra Mundial, foi a época em que a indústria no Brasil deu um grande
salto, pois com a crise no mercado externo, no contexto da década de trinta, o
pais teve que produzir produtos antes importados e substituir alguns artefatos
que já não havia compradores no exterior, como foi o caso do café, à época
principal produto de exportação brasileiro.
Como aponta Scarlato, (2003, p
367):
A
industrialização brasileira nesse período caracterizou-se por uma explicita
intervenção estatal, principalmente por intermédio de investidores nos setores
de bens de produção que correspondem à siderurgia, a petroquímica, bens de
capital, além da extração mineral e da produção de energia elétrica, E graças a
essa intervenção, houve um grande crescimento da produção industrial o que
lançou as bases para a consolidação de um parque industrial.
Um outro
período marcante da industrialização brasileira é representado pelo governo de
Juscelino Kubitschek, onde houve um grande crescimento econômico em consequência
da implantação do chamado Plano de Metas. Trava-se de um amplo programa de
desenvolvimento que previa investimentos estatais em diversos setores da
economia, tornando o Brasil um país atraente aos investimentos estrangeiros. Na
execução do plano, os investimentos dirigiram-se aos setores de energia e
transportes. Segundo Davidovich e Geiger (1974, p. 121):
Houve um
grande aumento da produção de hidroeletricidade e de carvão mineral, que
forneceu o impulso inicial no programa nuclear, e elevou a capacidade de
prospecção e refino de petróleo, pavimentação e construção de rodovias, além de
melhorias nas instalações e serviços portuários, aeroviários e reaparelhamento
e construção de ferrovias.
Paralelamente,
devido aos investimentos estatais em obras de infra-estrutura, houve um
expressivo ingresso do capital estrangeiro, responsável por grande crescimento
da produção industrial nos setores automobilísticos, químico-farmacêutico e de
eletrodomésticos. O parque industrial brasileiro passou, assim, a contar com
significativa produção de bens de consumo duráveis, o que sustentou e deu
continuidade á política de substituição de importações.
A política do
Plano de Metas foi acompanhada por um significativo aumento da inflação e da
divida externa, e além do que, também acentuou a concentração do parque
industrial na região sudeste, agravando ainda mais os contrastes regionais e
causando implicações serias nas relações socioeconômicas do país.
A inflação
acentuou ainda mais no período da ditadura militar, pois embora o parque
industrial tenha se consolidado através da constante busca por capital militar,
pois embora o parque industrial tenha se consolidado através da constante busca
por capital estrangeiro, o que elevou o país na época à 8º maior economia,
houve uma crescente divida externa o que reduziu a qualidade de vida da
população.
E juntamente
com a crise do petróleo, vem o desemprego, a imigração da zona rural para a
zona urbana, e conseqüentemente o inchamento das cidades. Só a partir de 1984 a
economia volta a crescer, com o PIB atingindo 4,5% e em 1985, passa a 7,4 % e a
balança comercial que era deficitária torna-se superavitária. (BRESSER PEREIRA,
1992).
Configurações atuais da indústria
brasileira.
Como foi
explicitado, a associação de capitais privados nacionais e estrangeiros, com
investimentos estatais levou á formação, no Brasil, de um parque industrial que
abrange seguimentos industriais de bens de consumo, de produção e de capital.
Contudo o
volume de produtos fabricados nas indústrias de bens de capital e de produção é
até os dias de hoje, insuficiente para abastecer as necessidades do nosso
parque industrial. Consequentemente, ainda é preciso importar máquinas,
equipamentos e alguns produtos siderúrgicos especiais não fabricados no país.
Atualmente, a
atividade industrial é responsável por mais de 60% do PIB brasileiro. Os
setores predominantes são as indústrias siderúrgicas, metalúrgicas, mecânicas,
elétricas, química e petroquímica, de veículos, de alimentos e bebidas,
têxteis, de confecções, de calçados, de papel e celulose. (IBGE, 2007)
Em conjunto
esses setores são responsáveis por mais de 80% do produto industrial do país.
Porém vem crescendo bastante os investimentos em indústrias ligadas às novas
tecnologias, como robótica, aeronáutica, eletrônica, telecomunicações, mecânica
de precisão e biotecnologia. (FURTADO, 1999)
Entre os
aspectos positivos da dinâmica atual da indústria brasileira, podemos destacar
o potencial de expansão no mercado interno, os aumentos nos volumes das exportações
de produtos industrializados, o aumento na produtividade, a melhora da
quantidade dos produtos e uma maior dispersão espacial dos estabelecimentos
industriais para regiões historicamente marginalizadas, como a s regiões
Nordeste e Norte.
Porém a indústria
ainda enfrenta vários problemas que aumentam os custos e dificultam uma maior
participação no mercado externo como: deficiências e altos preços nos
transportes, baixos investimentos públicos e privados em desenvolvimento
tecnológico, baixa qualificação da mão de obra e barreiras tarifárias impostas
por outros países à importação de produtos brasileiros.
A industrialização piauiense
De acordo com
Santana (2003) as primeiras formas de produção industrial surgiram ainda no
século XVIII, na cidade de Parnaíba ao norte do estado, com a produção de
charque e posteriormente com a exploração de produtos vegetais quem começava a
ser exportada para o exterior. Segundo Mendes (2003):
Com o progresso da
tecnologia e das formas de produção novas indústrias se instalaram no estado
como a de fiação de tecidos (1988), curtume (1993), sal refinado (1908),
cerveja, gelo e bebidas gasosas (1912), óleos vegetais (1912 e 1913), mas ainda
não representava uma consolidação do processo industrial, pois estes não tinham
incentivos fiscais e infraestrutura capazes de atrair indústrias com produtos
de valor mais agregado.
Somente
a partir da década dos anos 1970, com os investimentos no setor de energia elétrica,
a industrialização no Piauí começa a tomar novos rumos, elevando a participação
da indústria na composição do Produto Interno Bruto – PIB de 4,7% em 1965, para
27,3% em 1999(MENDES, 2003).
Praticamente
todo o processo de industrialização se deu na capital do estado, sendo que até
o início do século XX, Teresina conservava a marca forte do meio rural, mas
destaca Branco (2002) que o poder público já se mostrava preocupado com o seu
desenvolvimento econômico, e ofereceu subsídios à iniciativa privada com a
finalidade de torná-la economicamente menos dependente.
Atendendo
para este fato foi criado o Distrito Industrial de Teresina, que está
localizado na zona sul de Teresina, área inadequada para esta atividade, por
estar a montante do ponto de captação de água para abastecimento da população
urbana, no rio Parnaíba, o que possibilita a contaminação das águas.
A
situação não é mais grave pelo fato se o setor industrial ainda ser pouco
expressivo, favorecendo o controle da poluição. Além disso, grande parte dos
lotes do distrito industrial está ocupada por atividades não industriais, como
armazenamento e distribuição, minimizando o problema de poluição, mas
configurando um uso menos produtivo da área (TERESINA,2002).
Em
Teresina, onde está concentrada a grande maioria das indústrias piauienses,
esta atividade, até 1991 era, segundo Pereira Filho (2003), constituídas
aproximadamente de 700 unidades, ressaltando maiores destaques para as
indústrias de construção civil, bebidas, vestuário, material de transporte,
produtos alimentícios e indústria metalúrgica.
CASO DA INSÚSTRIA DE CAHAÇA ORGÂNICA DO MÉDIO PARNAÍBA PIAUIENSE
Para realização
desse artigo escolheu-se trabalhar com a fábrica de bebidas Cachaça Lira, localizada
no município de Amarante – PI, possuidor de uma população de 17.892 habitantes,
sendo o município pertencente à microrregião geográfica do Médio Parnaíba Piauiense
(IBGE, 2007).
A
escolha dessa indústria se deve, primeiramente por entender que esta exerce um
papel fundamental na economia do município e também porque representa uma das
mais completas fábricas de bebidas destiladas do Piauí, com uma linha de
produção completa, incluindo desde a produção da cachaça de alambique a outros
produtos agropecuários, além de sua política interna que presa pela
sustentabilidade ambiental e pela geração de emprego e renda para a população
local.
A
área territorial do Sítio Floresta é de 250 hectares, porém, apenas 15% desse
total são utilizados pela empresa para uso agropecuário, os 85% restantes estão
contidos na política de preservação ambiental da empresa. Isso demonstra a
preocupação dos gestores pela busca da sustentabilidade através de ações
concretas de preservação dos recursos naturais do ambiente local.
Relativo
ao sistema produtivo e as formas da produção da Cachaça Lira, eles ocorrem
através de um processo que integra a tradição, pois em suas instalações há a
presença de um engenho centenário instalado as margens do riacho Mulato, com a
evolução das novas tecnologias representadas pelos alambiques de cobre que
integram o sistema produtivo da empresa.
Como explica
Haroldo Lira (Agrônomo da empresa):
“Nosso produto é resultado
de um processo que associa a tradição dos antigos engenhos com a evolução das
novas tecnologias. O cuidado se dá em todo processo. A cana é plantada em
lavoura orgânica, a colheita é feita da forma manual e o sistema de irrigação é
tradicional. O apuro artesanal faz com que a levedura da cachaça se já
preservada e traga também benefícios para saúde”
No
tocante da matéria-prima, ou seja, a cana-de-açúcar ela é produzida dentro do
próprio sítio, que possui características geoecológicas que favorece a produção,
pois possui um clima tropical subúmido seco (classificação de Thornthwaite), com
médias de precipitações anuais de 1400 mm; solos do tipo: argissolos vermelho-amarelo,
associações de latossolos vermelho-amarelos e afloramentos rochosos; além de
grande intensidade de vegetação de floresta mista subcaducifólia, vegetação
cerrado arbóreo-arbustiva e transição cerrado/caatinga que facilitam o
desenvolvimento de plantios de espécies com necessidades hídricas elevadas
(AQUIAR,2004).
Como
já relatado o plantio e manejo da cana-de-açúcar, se dá sem aditivos químicos e
agrotóxicos. Sendo que a cana é colhida manualmente sem a prática da queimada,
e posteriormente passa por uma seleção e limpeza e por fim é moída nas
primeiras vinte e quatro horas após a colheita.
Com
o caldo da cana pronto, ela passa agora por um processo de decantação para
eliminar impurezas advindas do campo e do próprio maquinário, em seguida, é
prosseguido para dornas de aço inox, onde será fermentado por leveduras alcoólicas
das linhagens (Sacharomyces Cerevisiae)
autóctones do próprio sítio.
O
vinho da cana é destilado em alambique de cobre e somente é aproveitado o
coração do destilado (cerca de 15% do vinho da cana). A cabeça e a calda são
descartadas por conter metanol, ácidos voláteis, aldeídos e alcoóis superiores
altamente prejudiciais à saúde.
Após
o processo de destilação, a Lira é bombeada sem contato manual para tonéis de
madeira da espécie Castanheira (madeira considerada o “carvalho” brasileiro) de
700 litros, onde permanece por um período mínimo de 12 meses. O resultado final
do envelhecimento da Lira é o aprimoramento das características do sabor,
aroma, brilho, maciez e cor.
Os
resíduos produzidos pela produção da cachaça são destinados para outros setores
e outras atividades desenvolvidas pela empresa, que correspondem à criação de
animais e a adubação de outras culturas agrícolas. Dentre os resíduos o mais
prejudicial à saúde é o vinhoto que é resultado da fermentação da sacarose.
Tendo
em vista a potencialidade poluidora desse subproduto a empresa desenvolveu outro
sistema produtivo paralelo e complementar a produção da cachaça, que
corresponde à produção de álcool combustível através da destilação do vinhoto,
sendo que o combustível é utilizado nos automóveis da empresa o que reforça
mais ainda o caráter sustentável da política interna promovida pela empresa.
O
Piauí assim como o Brasil, e principalmente as regiões Norte e Nordeste tiveram
um processo de industrialização tardio e acanhado. E como reflexo disso o Piauí
tem suas atividades industriais baseadas no extrativismo de produtos primários,
caracterizando-se como uma região de agroindústrias que não consegue produzir e
acumular riquezas para investir em infraestrutura, modernização da economia e
conseguintemente um pleno desenvolvimento industrial. E constituindo ainda como
agravante que dificulta um efetivo progresso industrial é a situação da
desigualdade regional e nacional em que se coloca a indústria do Piauí, pois o
fato de suas atividades industriais ainda estarem pautadas na extração de
produtos primários, aliada a grande concentração de renda e da propriedade
privada, caracterizada pelo uso tradicional da terra com práticas de pecuária
extensiva e culturas de subsistência, inviabilizam a atração de investimentos
dos agentes que promovem o desenvolvimento industrial. Porém há iniciativas que
promovem um avanço na economia piauiense, como é o caso da referente empresa, que
foi tomada como estudo de caso, pois alia suas vantagens e potencialidades o
investimento em infraestrutura e tecnologias sem esquecer a sustentabilidade
ambiental e seu papel social, o que mostra uma realidade nova no cenário
industrial do Piauí.
REFERÊNCIAS
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Bôto de.Projeto cadastro de fontes de
abastecimento por água subterrânea,estado do Piauí:diagnóstico do município
de Amarante/Organização do texto[por]Roberto Bôto de Aguiar[e]José Roberto de
Carvalho.Gomes,Fortaleza:CPRM-Serviço geológico do Brasil.
BAER,Werner.A economia brasileira.Tradução deEdite
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BRANCO,
P. V. C. Desejos, tramas e impasses da modernização (Teresina 1900-1930). In:
Scientia et Spes/Revista do Instituto Camilo filho, vol. 1, nº2, Teresina: ICF,
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BRESSER
PEREIRA,Luís.Economia brasileira:uma introdução crítica.10 ed.Brasiliense.São
Paulo,1992.
DAVIDOVICH,
F & GEIGER, P.P.Reflexões sobre a evolução da estrutura espacial do Brasil
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MENDES, F. Economia e desenvolvimento do Piauí.
Teresina: Fundação Monsenhor Chaves, 2003.
PEREIRA FILHO, F. Indústria teresinense: aspectos da
qualidade e da competitividade. In: Carta Cepro. Teresina; v.22; n.2;
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